segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Rei Sábio

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Era uma vez um rei muito sábio, que governava com amor, compaixão e justiça, e que por isso era adorado pelo povo. No dia do seu aniversário, os súbditos deram-lhe um presente: um magnífico anel, adornado por uma bela jóia preciosa. Só que o anel era, na verdade, um relicário, pois guardava em sua câmara secreta uma jóia ainda mais valiosa. Ao entregar o presente ao rei, o grão-vizir deu a seguinte instrução: “Vossa Majestade só poderá abrir o anel e usar a verdadeira jóia que ele contém em casos extraordinários, de profunda aflição ou de intensa alegria”. O soberano garantiu que iria cumprir fielmente essa determinação e colocou o anel no dedo – que aliás, lhe serviu perfeitamente.
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O reino vivia em paz há muitos séculos. Porém, certo dia, o rei vizinho, ambicionando novas terras, preparou-se para invadir os domínios do nosso justo soberano. Este, com coragem que o caracterizava, colocou-se à frente do seu exército. A sorte foi-lhe adversa: no campo de batalha, perdeu a lança e depois a espada, e assim desarmado, foi perseguido por vários soldados inimigos. No afã de fugir, o corcel do valoroso rei seguiu por uma estrada próxima, bem acidentada, que margeava um abismo profundo. Justamente no ponto mais perigoso do caminho, o cavalo tropeçou e, no impacto, arremessou o rei no abismo.
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O rei morreu? Não, o rei não morreu, dessa vez, a sorte foi-lhe favorável. É que a uns metros do alto precipício havia uma árvore de galhos fortes e longos, e o nosso soberano ficou enganchado num deles. Uma outra notícia foi que os soldados inimigos não viram o acidente e se guiaram apenas pelo ruído do galope da montaria real, disparando em seu encalço. Ou seja: os perseguidores se foram.
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O rei, seguro apenas pelo cangote, balançava como pêndulo no galho da árvore sobre o abismo, prestes a cair a qualquer instante. Situação deveras aflitiva, ele reconheceu. E, reconhecendo, lembrou-se do anel, compreendendo que, nas circunstâncias presentes, o seu uso era plenamente justificado. Com cuidado, afastou a pedra do anel, abrindo-o. No momento em que a jóia foi aberta, um minúsculo e misterioso dispositivo lançou um diminuto papiro em sua câmara secreta. Com mais cuidado ainda, o rei apanhou o minúsculo papiro, desenrolou-o e leu a seguinte mensagem: “Isto passará”.
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Três minutos ainda não haviam transcorrido quando apareceram soldados no alto da ribanceira. O rei olhou, conferiu o que estava vendo e se alegrou muitíssimo: eram os seus soldados! Estes, com habilidade, conseguiram resgatá-lo e o conduziram em glória a o seu reino. Festas, comemorações, aclamações, vitória sobre os invasores! Intensa alegria espalhou-se pelo reino. O próprio rei, sentindo-se campeão, deixou-se arrebatar por um verdadeiro frenesi de alegria e de orgulho pela vitória alcançada. Foi aí que novamente lembrou do anel, que só poderia ser aberto em caso de extrema aflição ou intensa alegria. Era, pois, o caso.
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Abriu-o e encontrou a seguinte mensagem: “Isto também passará”.
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